A anaconda de 15 metros e o cangaceiro no sertão

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1 tháng trước
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A Anaconda de 15 Metros e o Cangaceiro
Um conto do sertão paraibano

O sol castigava o chão rachado do sertão da Paraíba. A terra, avermelhada e quente, tremia sob o calor. O vento levantava redemoinhos de poeira e folhas secas. Entre o canto distante dos bacuraus, um homem surgia a cavalo, vestindo gibão de couro e chapéu de abas largas, com a marca dos cangaceiros antigos.

Chamava-se Severino da Onça — apelido ganho depois que enfrentou, sozinho, uma onça pintada que rondava um curral. Era homem valente, mas marcado pela vida. Seu rosto trazia cicatrizes antigas e o olhar, um misto de coragem e solidão.

Severino vivia isolado numa tapera entre pedras e mandacarus, caçando, pescando e contando histórias para o vento. Até que, certa noite, um grito de mulher rompeu o silêncio do sertão.

Era madrugada. A lua, amarela e cheia, iluminava o açude seco. O grito veio das margens, arrastado pelo vento:

— Socorro! Pelo amor de Deus!

Severino pulou da rede, pegou a espingarda e correu. Quando chegou à beira do açude, viu um rastro largo, profundo, abrindo caminho entre o capim amassado. E mais adiante, um pano de vestido rasgado preso num galho.

— Que diabo é isso? — murmurou ele.

No chão, a marca era como a de uma cobra, mas grossa demais. Tinha o tamanho de um tronco de árvore. Severino seguiu o rastro até a entrada de um buraco entre pedras — largo, escuro, com cheiro forte de lama e sangue.

Ele cuspiu pro lado e disse:

— Se for o que tô pensando… vou precisar de mais do que uma espingarda.

No outro dia, a vila de São Raimundo estava em alvoroço. Dona Francisca, mãe da moça desaparecida, gritava na feira:

— Foi o bicho da lagoa! Eu avisei! A cobra voltou!

O povo se benzia, assustado. Relembravam histórias antigas — de uma anaconda gigantesca, trazida há décadas por um circo estrangeiro que passara pela Paraíba. Diziam que o circo pegara fogo e o bicho fugira, escondendo-se nas águas profundas do açude velho.

Desde então, todo ano alguém sumia. Gado, cavalo, até gente. Mas ninguém nunca tinha visto o monstro. Só rastros, só medo.